A ROSA DO FIM DO MUNDO ( CÂNTICOS PROFÉTICOS )

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vênus
















Quando você mostrou a abrupta flor

De seu sexo


Nos seus lábios mornos impregnados

Pelo desejo


Como vênus cintilante distraída

No poente


Acariciando a alma dos mortais

Docemente






sábado, 20 de novembro de 2010

Perdidos entre estrelas...





















A lucidez
Bate à porta
Como um golpe de navalha
Em meu precórdio.

E lá estavam eles:
– Os serafins, de novo,
Na imensidão do nada
Como argonautas.

Qual o caminho de volta
Ao início do fim?
Em que praia,
Em que cais,

Nossa nau perdida,
Entre estrelas:
Será nossa pátria,
Nossa era?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Momento de delírio

















Sou poeta:
Por não suportar a brutalidade
Da exatidão do tempo
Em cada vão momento da vida.

Por isso estou nesta estrada,
Já desabada, em busca da verdade,
Mesmo sabendo que é a pior mentira.

Sou mesmo um cavaleiro
Enclausurado,
Em busca da sinceridade
Do teu olhar, escondida.

sábado, 13 de novembro de 2010

A VIDA



A vida não merece a dor
de ser vivida”.
Manuel Bandeira





Num crepúsculo a tarde caía.
Não era luz aquilo que luzia
E nem era tristeza aquilo
Que deverasmente sentia.

No passar dos anos fizemos canções
E no peito um aperto tão bom,
De sentir passar o tempo
Sem nos preocuparmos com a metafísica.

E crer em algo mais.
O que não se pode ver
Ou apalpar com as mãos,
Mas está dentro com o nosso pulsar.

E nem era dor
Aquilo que doía.
Era a vida, era a vida.
A vida.

Estou estarrecido, porém
Continuo lúcido, com areia nos olhos.
Sigo este caminho: já extenuado,
Como  já o tivesse conhecido.











     Manuel Bandeira




        

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

AVATAR



 Ao Deus invisível



A rosa obsoleta deitada ao relento
Esquecida no obscuro reflexo
Do descaso humano inconsciente,
Onde um Ser onipresente
Saboreia o desatino viveres,
Maléficos, cotidianamente.

Oh! Gênesis do bruto destino
De todas as galáxias espalhadas
No firmamento de lamentos,
Impregnados pelo desejo:
Onde a escolha da sua travessia
Não passa mais do que um sonho.

Desesperados: como um sorriso de
Criança que tem ainda a crença
De estar, algum dia, ao lado
Do Criador, nos seus delírios, e
Segurar sua mão e sentir a brisa
Do eterno, acalantando a alma,


De esperança e alegria no futuro
De estar vivo em sua presença.
Contagiai-vos os pensamentos
Enchendo de cânticos o seu caminho
Triunfantes dos mistérios,
Neles estão guardados todas

As respostas: quando o seu filho
Primogênito indagar sobre a
Morte e a existência de Deus;
E ao enxugar-lhes as lágrimas:
– Lá você encontrará o seu peixinho Quilbert
O seu cãozinho Bob, papai e mamãe.






Meu filho, Leonardo Rossetto aos
4 anos de idade.
Dezembro de 2007.

Não temerei mais a morte.









" Nus, os mortos irão se confundir...
Com o homem no vento e a lua no poente;
Em suas mãos, a fé irá fender-se e duas,
E a morte não terá nenhum domínio..."

                                           Dylan Thomas







Vem meteórica, vem indolente:
Possuir cada instante roubado,
Desvendando todos os segredos...
Decifrado pelo seu eterno silêncio,
Como um ocaso que já se finda.

Vem misericórdia, vem triunfante,
Apocalíptica: sem sentir pena;
Deteriorando a matéria
Rompendo as fibras da carne
Expondo todas as suas nervuras.

Vem rutilante, Vem Armageddõn:
O buraco negro infinito, eterno,
Mistério elucidado irreversível.
Desmoronando a ponte única
Dos dias que nunca serão vividos.

Vem retumbante, vem piedosa:
Selar todas as dores e feridas;
Entorpecendo todas as veias,
Acalantando, ao ver o caminho:
Já enveredado pelos Entes queridos.





domingo, 31 de outubro de 2010

O DESTINO



A Nietzsche


Cabe apenas aos homens acreditar em Deus!
E a sua existência cósmica, única, depende...
Da conspiração infinita dos astros, 
cristalizando-se na cognatação do destino:
O imponderável desejo do universo.

Cabe a nós sobreviver e sofrer...
Dura sensação do efêmero e eterna despedida
Coisas que nos fazem viver intensamente
êxtase da adoração ao mistério:
E calar o grito carnal do inevitável fim.

Engolir o próprio sorriso e soprar o jasmim,
Sentido suas carícias num perfume fugaz
E deletério, atingindo o próprio orgasmo,
Sem ter o tempo mundano de usufruí-lo.
E sentido piedade de nós mesmos

Apesar de um enorme prazer da matéria
De contemplação do nada e quietude
Da solidão de estar próximo e longe,
Passo a passo de se encontrar com o
Iluminado ser que inefavelmente, nos espera.





terça-feira, 14 de setembro de 2010

Rabin































Olho o futuro e ele nos dá medo.
Rabin, você que tinha esquecido a ira,
Enfeitava os caminhos dos homens
Com a utópica esperança da paz.

Veio de novo a crueldade, tão humana,
Irreversível condição de larva
Que estamos geneticamente acorrentados
E Prometeu ousou nos tirar.

Que Cristo ousou nos tirar.
Que Gândhi ousou nos tirar.
Que Guevara ousou nos tirar.
Que Luther King ousou nos tirar.

Que Lennon ousou nos tirar.
Que Mendes ousou nos tirar.
E virão outros anjos
Que ousarão nos tirar.

E se repetirá novamente a cena
Tão monótona e obscena
Com o mesmo motivo de aprisionar
A tão lírica pomba da paz.











segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O SOL




Democraticamente... Aparece
Num céu anil, sem fronteiras,
Sem querer nada em troca.

No momento certo... Aparece
Como se soubesse
Que é indispensável na alma
E no metabolismo.

Transformou a noite em dia
E, como se não bastasse...
Fez de lambuja, depois da chuva,
Um arco-íris.

E a rosa
Que não queria abrir, abriu.
E o passarinho
Saiu do ninho cantarolando,
Partiu...

E o dia que era triste
Ficou alegre,
Apesar de tudo.

E o Sol
Ainda brilha,
Apesar de tudo.



















Impressão, nascer do sol
Claude Monet, c. 1872
óleo sobre tela

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Terra
















Nave astro terra.
Nave viva de luz.
Feito quimera,
Nos acolhe e conduz.


Nossa nau perdida
Debulha na ira,
Como despedida
Sem porto, sem mira.


Despertando ainda...
Longe se vai, enfim:
O sonho não finda,
Apesar do seu fim.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Oração ao nada.

  



























Chuva radioativa que corrói a alma
Na mãe África de todos nós
E também dos homens de alma sombria:
Livrai os homens do próprio homem.

Livrai-nos de todo mal.
Beatificai os rios, os pântanos
– santuário do início da vida.
Mantenedora deste sonho astral.



Imagem do Buraco Negro, obtida pelo 
Telescópio Hubble.